Crânios podem servir de troféus, relíquias ou até mesmo ornamentos. Armada com as mais modernas tecnologias, exposição em museu alemão vai fundo na história das caveiras.
Caveira revestida com mosaico (Museu de Atenas)
Certos visitantes da exposição Schädelkult (Culto das caveiras) provavelmente só vêm mesmo experimentar calafrios: entre os 300 crânios expostos há realmente alguns que despertam um certo horror.
O cientista Bernd Kromer, porém, não se importa nem um pouco se o topo das caveiras foi cortado fora ou se há pregos enfiados nelas. Tudo o que lhe interessa são exatos 20 microgramas de material: o suficiente para determinar a idade do exemplar.
Para obter tal amostra, o especialista em arqueometria faz um orifício de dois milímetros na superfície do crânio. Dos 60 que já examinou, o mais antigo datava do final da Idade do Bronze; o mais recente, da alta Idade Média.
Crânio modelado com argila
Kromer integra o assim chamado German Mummy Project (Projeto Alemão das Múmias), do complexo de museus Reiss-Engelhorn de Mannheim, uma das pesquisas mais inusitadas de que se tem notícia.
Com o apoio dos mais modernos métodos, um grupo de antropólogos, anatomistas, médicos, químicos, físicos, biólogos ou geneticistas de diversos países trabalha para extrair os segredos das múmias.
E assim resolvem enigmas envolvendo origem, alimentação ou rituais de mortos milenares.
E assim resolvem enigmas envolvendo origem, alimentação ou rituais de mortos milenares.
O original programa de pesquisa nasceu em 2004, a partir de uma grande mostra de múmias em Mannheim.
O sucesso foi tão grande que os cientistas continuaram a perseguir a temática. "Atualmente, estudamos mais de 60 múmias. Agora utilizamos os contatos de longa data e descobertas do German Mummy Project também na pesquisa dos crânios", explica o arqueólogo Wilfried Rosendahl, vice-diretor dos Museus Reiss-Engelhorn e iniciador do projeto.
O sucesso foi tão grande que os cientistas continuaram a perseguir a temática. "Atualmente, estudamos mais de 60 múmias. Agora utilizamos os contatos de longa data e descobertas do German Mummy Project também na pesquisa dos crânios", explica o arqueólogo Wilfried Rosendahl, vice-diretor dos Museus Reiss-Engelhorn e iniciador do projeto.
Mistério do mosaico turquesa
Arte mesoamericana vista pelo tomógrafo
Theodoros Pitzios, diretor do Museu Arqueológico de Atenas, viajou especialmente da Grécia para Mannheim trazendo um crânio na bagagem. A peça é, ao mesmo tempo, horripilante e bela: totalmente revestida com pedras de mosaico de cor turquesa, é considerada uma raridade absoluta, e Pitzios quer desvendar seu mistério.
A caveira apareceu em Atenas há mais de 100 anos, sem que ninguém saiba sua idade exata. O especialista estima que tenha mais de 500 anos de existência e origem na Mesoamérica. "Ela talvez seja um pouco mais antiga do que os astecas.
Encontramos exemplos semelhantes de crânios decorados na literatura. Agora estamos pesquisando que idade este tem."
Encontramos exemplos semelhantes de crânios decorados na literatura. Agora estamos pesquisando que idade este tem."
Uma tomografia computadorizada revelará se as pedras foram aplicadas de forma sistemática, assim como o estado das raízes dentárias. Para o radiologista e especialista em medicina nuclear Christian Fink, passar múmias ou crânios pelo aparelho de tomografia é sempre algo de especial.
Há três anos, seu Instituto de Radiologia Clínica e Medicina Nuclear coopera com os Museus Reiss-Engelhorn, pois dispõe de um tomógrafo extraordinariamente potente.
Há três anos, seu Instituto de Radiologia Clínica e Medicina Nuclear coopera com os Museus Reiss-Engelhorn, pois dispõe de um tomógrafo extraordinariamente potente.
"Normalmente o utilizamos nos pacientes para distinguir tumores do tecido normal. Para os Museus Reiss-Engelhorn, a peça exposta é o foco das atenções; para nós, trata-se de como alcançar novos conhecimentos empregando novas tecnologias."
Tomografia de cabeça recoberta com argila
Segredos da tomografia
Em que estado se encontra o esqueleto? O que se oculta no interior do crânio? Não só para os arqueólogos, mas também para os médicos é interessante examinar caveiras e esqueletos.
Os peritos do Instituto de Radiologia Clínica e Medicina Nuclear procuram distinguir entre ossos e outras estruturas, como ataduras e bandagens, explica Christian Fink.
Os peritos do Instituto de Radiologia Clínica e Medicina Nuclear procuram distinguir entre ossos e outras estruturas, como ataduras e bandagens, explica Christian Fink.
Fink aponta para a imagem computadorizada de uma caveira da Colômbia, provavelmente datando do século 12 a 15 e modelada por fora: uma pasta de argila aplicada sobre os ossos não permitia distinguir a fisionomia do morto.
No caso do crânio colombiano, o resultado da tomografia foi uma enorme surpresa. "Descobrimos um crânio infantil, cuja estrutura óssea foi modificada [ainda em vida] através de ataduras, a fim de corresponder ao ideal de beleza vigente."
A tomografia computadorizada tem revelado ainda outros segredos. Nos orifícios de uma múmia, por exemplo, os cientistas encontraram rolos de papiro. Num crânio celta havia um prego enfiado após a morte.
O exame auxiliou os arqueólogos a descobrir um estranho ritual: a cabeça ficava pendurada do lado de fora de uma casa, em sinal de vitória.
O exame auxiliou os arqueólogos a descobrir um estranho ritual: a cabeça ficava pendurada do lado de fora de uma casa, em sinal de vitória.
A exposição Culto das Caveiras pode ser vista até 29 de abril de 2012 no Museu Weltkulturen D5, em Mannheim.
Fonte : DWNoticias