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UM ERRO: EM BUSCA DO DESCONHECIDO ATRAVÉS DA MAGIA E DO ESPIRITISMO

Dominio Espiritual saia da ignorancia[3]
“HOMENS de Atenas, eu observei que em todas as coisas pareceis mais dados ao temor das deidades do que os outros.” (Atos 17:22) 


Foi isso que o apóstolo cristão Paulo disse a uma multidão reunida no Areópago, ou Colina de Marte, na antiga cidade de Atenas, Grécia. Paulo disse isso porque havia percebido que “a cidade estava cheia de ídolos”. (Atos 17:16) O que havia visto ele?

2 Sem dúvida, Paulo havia visto uma diversidade de deuses gregos e romanos naquela cidade cosmopolita, e era óbvio que a vida do povo girava em torno da adoração das deidades. Temendo que involuntariamente deixassem de venerar alguma deidade importante ou poderosa, que por isso poderia enfurecer-se, os atenienses incluíam na sua adoração até mesmo “um Deus Desconhecido”. (Atos 17:23) Isso era um claro indicativo do temor que eles tinham às deidades.

3 Naturalmente, o temor às deidades, em especial às desconhecidas, não se limitava aos atenienses do primeiro século. Por milhares de anos, tal temor tem dominado praticamente toda a humanidade. Em muitas partes do mundo, quase todo aspecto da vida das pessoas é direta ou indiretamente envolvido com alguma deidade ou com espíritos. Como vimos no capítulo anterior, a mitologia dos antigos egípcios, gregos, romanos, chineses e outros, arraigava-se profundamente em conceitos a respeito de deuses e espíritos, que desempenhavam um papel importante nos assuntos pessoais e nacionais. Na Idade Média, histórias sobre alquimistas, feiticeiros e bruxas grassavam no domínio da cristandade. E a situação é um tanto similar hoje.
Modernos Rituais e Superstições

4 Quer se dêem conta disso, quer não, muitas das coisas que as pessoas fazem têm ligação com práticas ou crenças supersticiosas, algumas delas tendo relação com deidades ou espíritos. Por exemplo, sabia que a celebração de aniversários de nascimento origina-se na astrologia, que dá grande importância à data exata do nascimento da pessoa? Que dizer do bolo de aniversário? Parece estar relacionado com a deusa grega Ártemis, cujo natalício era celebrado com bolos de mel em forma de lua, com velas sobre eles. Ou, sabia que vestir-se de preto nos funerais era originalmente um ardil para burlar a atenção de espíritos maus que alegadamente estariam de tocaia em tais ocasiões? Alguns negros africanos pintam-se de branco, e pessoas de luto em outros países usam roupas de cores incomuns para que os espíritos não as reconheçam.

5 Além desses costumes populares, pessoas em toda a parte têm suas superstições e temores. No Ocidente, quebrar um espelho, avistar um gato preto, passar por baixo de uma escada e, dependendo de onde você vive, a terça ou a sexta-feira 13, são encarados como mau agouro. No Oriente, os japoneses usam o quimono com a parte esquerda sobreposta à direita, pois o contrário é reservado para cadáveres. As casas não têm janelas nem portas no lado nordeste, para que os demônios, que alegadamente vêm dessa direção, não encontrem a entrada. Nas Filipinas, as pessoas tiram o sapato dos mortos e o colocam ao lado das pernas antes do sepultamento, para que “São” Pedro os receba bem. Pessoas idosas dizem aos jovens que se comportem, alegando que a figura na lua é “São” Miguel, observando e anotando as suas ações.

6 A crença em espíritos e deidades, contudo, não se limita a costumes e superstições aparentemente inofensivos. Tanto nas primitivas como nas modernas sociedades, as pessoas têm lançado mão de vários métodos para controlar ou apaziguar os espíritos temíveis e ganhar o favor dos benevolentes. Naturalmente, a primeira imagem que talvez nos venha à mente seja a de pessoas em selvas e montanhas remotas, que consultam médiuns espíritas, curandeiros e xamãs (sacerdotes-magos) quando estão doentes ou em sérias dificuldades. Mas, pessoas que vivem em cidades, grandes e pequenas, também recorrem a astrólogos, médiuns, cartomantes e adivinhos para saber o futuro ou receber ajuda em tomar decisões importantes. Alguns, mesmo pertencendo nominalmente a uma ou outra religião, dedicam-se com entusiasmo a tais práticas. Muitos outros têm feito do espiritismo, da magia negra e do ocultismo a sua religião.

7 Qual é a fonte ou origem de todas essas práticas e superstições? São apenas maneiras diferentes de chegar-se a Deus? E, o mais importante, que fazem elas em benefício dos que as seguem? Para achar a resposta a tais perguntas, temos de remontar ao passado na história do homem e obter um relance de suas primitivas formas de adoração.

Em Busca do Desconhecido

8 Contrário ao que talvez afirmem os evolucionistas, o ser humano tem uma dimensão espiritual que o torna diferente e superior em relação às criaturas inferiores. Ele nasce com a ânsia de desvendar o desconhecido. Está sempre às voltas com perguntas tais como: Qual é o sentido da vida? O que acontece após a morte? Qual é a relação do homem com o mundo material e, na realidade, com o universo? Ele é impelido também pelo desejo de alcançar algo mais elevado ou mais poderoso do que ele próprio, para que de algum modo possa controlar o seu meio ambiente e a sua vida. — Salmo 8:3, 4; Eclesiastes 3:11; Atos 17:26-28.

9 Ivar Lissner, em seu livro Man, God and Magic (O Homem, Deus e a Magia) colocou isso da seguinte maneira: 

“Não deixa de causar admiração a perseverança com que o homem se tem esforçado, no decorrer de sua história, de ir além dos limites de si mesmo. Suas energias jamais foram orientadas unicamente na direção das necessidades da vida. Sempre procurando, tateando adiante em seu caminho, aspirando o inatingível. Este anseio estranho e inerente no ser humano é sua espiritualidade.”

10 Naturalmente, os que não crêem em Deus não encaram o assunto dessa maneira. Em geral atribuem essa tendência humana às necessidades do homem, psicológicas ou outras, como vimos no Capítulo 2. Contudo, não sabemos todos nós que, diante do perigo ou de uma situação desesperadora, a primeira reação da maioria das pessoas é recorrer a Deus ou a algum poder superior em busca de ajuda? Tem sido assim tanto hoje como em tempos idos. Portanto, Lissner prosseguiu: 

“Ninguém que pesquisou entre os mais antigos povos primitivos pode deixar de ver que todos eles concebiam a existência de Deus, que tinham uma vívida percepção da existência de um ser supremo.”

11 De que modo tentavam satisfazer esse desejo inato de chegar ao desconhecido era um caso bem diferente. Caçadores e criadores de gado nômades estremeciam diante da força dos animais selvagens. Agricultores atentavam especialmente às mudanças do tempo e das estações. 

Os habitantes das selvas reagiam de maneira muito diferente daqueles que viviam nos desertos ou nas montanhas. Em face desses variados temores e necessidades, as pessoas criaram uma estonteante variedade de práticas religiosas através das quais esperavam apelar aos deuses benevolentes e apaziguar os temíveis.

12 Apesar da grande diversidade, porém, é possível reconhecer certos aspectos comuns nessas práticas religiosas. Entre estes, a reverência e o temor para com espíritos sagrados e poderes sobrenaturais, o uso da magia, a adivinhação do futuro através de sinais e agouros, a astrologia e variados métodos de ler a sorte. Examinando tais aspectos, veremos que eles têm desempenhado um papel importante em moldar o pensamento religioso das pessoas em todo o mundo e em todas as eras, incluindo até mesmo pessoas hoje em dia.

Espíritos Sagrados e Poderes Sobrenaturais

13 A vida das pessoas nos tempos primitivos parecia envolta em mistérios. Viviam cercadas de eventos inexplicáveis e desconcertantes. Por exemplo, não podiam entender por que uma pessoa perfeitamente robusta devesse subitamente adoecer, ou por que o céu deixaria de dar chuva na época costumeira, ou por que uma árvore desfolhada, aparentemente sem vida, devesse ficar verde e cheia de vida numa determinada época do ano. Até mesmo a sombra, os batimentos do coração e a respiração da pessoa eram mistérios.

14 Considerando a inclinação espiritual inata do homem, seria natural que ele atribuísse tais coisas e acontecimentos misteriosos a algum poder sobrenatural. Contudo, faltando-lhe a correta orientação e entendimento, seu mundo logo passou a ficar repleto de almas, espíritos, fantasmas e demônios. Por exemplo, os índios algonquianos, da América do Norte, chamam a alma da pessoa de otahchuk, que significa “sua sombra”, e os malaios do sudeste da Ásia crêem que, quando um homem morre, a sua alma escapa através das narinas. Hoje, a crença em espíritos e almas que partiram — e tentativas de se comunicar com eles de alguma maneira — são praticamente universais.

15 Da mesma maneira, outras coisas no ambiente natural — sol, lua, estrelas, oceanos, rios, montanhas — pareciam estar vivas e exercer uma influência direta sobre as atividades humanas. Visto que tais coisas pareciam ocupar um mundo à parte, foram personificadas como espíritos e deidades, alguns benevolentes e prestimosos, outros iníquos e danosos. A adoração de coisas criadas veio a ocupar um lugar de destaque em quase todas as religiões.

16 Encontramos crenças desse tipo nas religiões de praticamente toda civilização antiga. Os babilônios e os egípcios adoravam seus deuses do sol, da lua e das constelações. Animais domésticos e selvagens também figuravam entre seus objetos de veneração. Os hindus se notabilizam por seu panteão de deuses, que chegam a milhões. Os chineses sempre tiveram suas montanhas sagradas e seus deuses-rio, e eles expressam a sua devoção filial na adoração de antepassados. Os antigos druidas das Ilhas Britânicas consideravam sagrados os carvalhos, e reverenciavam em especial o visco que crescia no carvalho. Mais tarde, os gregos e os romanos deram a sua contribuição; e a crença em espíritos, deidades, almas, demônios e objetos sagrados de todo tipo ficou solidamente entrincheirada.

17 Embora alguns hoje possam encarar essas crenças como superstições, tais conceitos ainda estão presentes nas práticas religiosas de muitas pessoas em todo o mundo. Algumas ainda crêem que certas montanhas, rios, rochas de configuração estranha, árvores velhas e numerosas outras coisas sejam sagradas, e elas as adoram como objetos de devoção. Constroem altares, santuários e templos nesses lugares. Por exemplo, o rio Ganges é sagrado para os hindus, cujo mais acalentado desejo é banhar-se nele quando em vida e terem suas cinzas espalhadas sobre ele quando morrem. Os budistas consideram uma extraordinária experiência adorar no santuário em Buda Gaia, Índia, onde se diz que o Buda foi iluminado debaixo de uma figueira-dos-pagodes. Católicos vão de joelhos à Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, ou banham-se nas águas “sagradas” do santuário de Lourdes, na França, em busca de curas milagrosas. Venerar coisas criadas, em vez de o Criador, ainda é muito comum hoje. — Romanos 1:25.

A Ascensão da Magia

18 Uma vez estabelecida a crença de que o mundo inanimado estava cheio de espíritos, bons e maus, isso facilmente levou ao passo seguinte — tentativas de comunicar-se com os bons em busca de orientação e bênçãos, e de apaziguar os maus. O resultado foi a prática da magia, que tem florescido a bem dizer em toda nação, passada e presente. — Gênesis 41:8; Êxodo 7:11, 12; Deuteronômio 18:9-11, 14; Isaías 47:12-15; Atos 8:5, 9-13; 13:6-11; 19:18, 19.

19 No sentido mais básico, magia é uma tentativa de controlar ou coagir as forças naturais ou sobrenaturais para cumprir os mandos do homem. Desconhecendo a causa real de muitos acontecimentos cotidianos, as pessoas nas primitivas sociedades criam que a repetição de certas palavras mágicas ou encantamentos, ou a realização de algum ritual, poderiam produzir certos efeitos desejados. O que dava credibilidade a esse tipo de magia era que alguns dos rituais realmente davam certo. Por exemplo, os curandeiros — basicamente mágicos ou feiticeiros — das ilhas Mentavai, a oeste de Sumatra, eram tidos como surpreendentemente eficazes em curar pessoas que sofriam de diarréia. A sua fórmula mágica era fazer com que os doentes se deitassem com o rosto em terra perto da beirada de um penhasco, lambendo o solo de vez em quando. Por que dava certo? O solo nos penhascos continha caulim, a argila branca comumente usada em alguns dos modernos remédios contra a diarréia.

20 Uns poucos êxitos desse tipo rapidamente anulavam todos os fracassos e estabeleciam a reputação dos curandeiros. Estes logo se transformavam em personagens que gozavam de admiração e alta estima — sacerdotes, chefes, xamãs, pajés, feiticeiros, médiuns. As pessoas levavam a eles os seus problemas, buscando a cura e a prevenção de doenças, encontrar itens perdidos, identificar ladrões, afastar más influências e executar vingança. Por fim, veio a existir um grande conjunto de práticas e rituais supersticiosos que tinham a ver com estes assuntos bem como com outras ocorrências na vida, como nascimento, atingir a maioridade, noivado, casamento, morte e sepultamento. O poder e o mistério da magia logo dominavam todo aspecto da vida das pessoas.

Danças da Chuva e Encantamentos

21 Apesar da enorme variedade de práticas de magia dos diferentes povos, os conceitos básicos por trás delas são notavelmente similares. Primeiro, existe a crença de que o semelhante produz o semelhante, ou seja, que um desejado efeito pode ser produzido por imitá-lo. Isto é às vezes chamado de magia imitativa. Por exemplo, quando a falta de chuva ameaçava as suas plantações, os índios omaha, da América do Norte, dançavam em volta de uma vasilha de água. Daí, um deles punha na boca um pouco da água e cuspia no ar, imitando um borrifo ou chuvisco. Ou, talvez um homem rolasse no chão, como um urso ferido, para garantir uma bem-sucedida caça ao urso.

22 Outros povos tinham rituais mais complexos, incluindo cantos e oferendas. Os chineses faziam um grande dragão de papel ou de madeira, seu deus da chuva, e carregavam-no em procissão, ou, então, tiravam a imagem de sua deidade do templo e colocavam-na ao sol, para que sentisse o calor e talvez enviasse chuva. O ritual do povo ngoni, da África Oriental, inclui despejar cerveja numa vasilha enterrada no solo num templo da chuva e daí orar: “Senhor Chauta, endureceste o coração contra nós, que queres que façamos? Certamente teremos de perecer. Dá chuvas a teus filhos; eis a cerveja que te demos.” Daí eles bebem o restante da cerveja. Seguem-se cantos e danças e o agitamento de galhos mergulhados em água.

23 Outro conceito por trás das práticas de magia é que os objetos que pertenceram a uma pessoa continuam a influenciá-la, mesmo depois de separados dela. Isto levou à prática de jogar um feitiço na pessoa, fazendo um trabalho em algo que outrora pertencia a ela. Mesmo na Europa e na Inglaterra dos séculos 16 e 17, as pessoas ainda criam em bruxas e feiticeiros, que poderiam prejudicar as pessoas com esse tipo de poder. As técnicas incluíam coisas como fazer um boneco de cera duma pessoa e espetar alfinetes nele, escrever o nome da pessoa num pedaço de papel e daí queimá-lo, enterrar uma peça de seu vestuário, ou fazer outros trabalhos com seus cabelos, pedacinhos de unha, suor ou até mesmo excremento. Pode-se ver o alcance destas e de outras práticas do fato de que, na Inglaterra, promulgaram-se Atos do Parlamento em 1542, 1563 e 1604, declarando a bruxaria um crime passível de pena de morte. De uma forma ou de outra, esse tipo de magia tem sido praticado pelas pessoas a bem dizer em todas as nações, ao longo das eras.

O Futuro Por Meio de Sinais e Presságios

24 A magia não raro é empregada para descobrir informações ocultas ou para divisar o futuro por meio de sinais e presságios. Isto é conhecido como adivinhação, e os babilônios destacavam-se nisso. Segundo o livro Magia, Supernaturalismo e Religião (em inglês), 

“eles eram mestres nas artes da presciência, predizendo o futuro à base do fígado e dos intestinos de animais abatidos, do fogo e da fumaça e do brilho de pedras preciosas; prediziam eventos à base do burburinho de fontes e do formato de plantas. . . . Sinais atmosféricos, chuva, nuvens, vento e relâmpagos eram interpretados como presságios; o estalo de móveis e painéis de madeira prediziam eventos futuros. . . . Moscas e outros insetos, bem como cachorros, eram portadores de mensagens ocultas”.

25 O livro bíblico de Ezequiel relata que numa certa campanha militar, “o rei de Babilônia parou na encruzilhada, na cabeceira dos dois caminhos, para recorrer à adivinhação. Sacudiu as flechas. Indagou por meio dos terafins; examinou o fígado”. (Ezequiel 21:21) Conjuradores, feiticeiros e sacerdotes-magos eram também uma constante na corte babilônica. — Daniel 2:1-3, 27, 28.

26 Os povos de outras nações, tanto orientais como ocidentais, também recorriam a muitas formas de adivinhação. Os gregos consultavam seus oráculos com relação a grandes eventos políticos bem como assuntos temporais pessoais, como casamento, viagens e filhos. O mais famoso desses era o oráculo de Delfos. As respostas, supostamente do deus Apolo, eram dadas através da sacerdotisa, ou Pítia, em sons ininteligíveis, sendo interpretados pelos sacerdotes como criando versos ambíguos. Um exemplo clássico foi a resposta dada a Creso, rei da Lídia, que dizia: “Se Creso cruzar o Hális, ele destruirá um poderoso império.” Aconteceu que o poderoso império destruído foi o dele mesmo. Creso foi derrotado por Ciro, o persa, quando cruzou o rio Hális para invadir a Capadócia.

27 No Ocidente, a arte da adivinhação atingiu o apogeu com os romanos, que se preocupavam com presságios e portentos em praticamente tudo o que faziam. Pessoas de todas as camadas sociais criam na astrologia, na feitiçaria, em talismãs, na leitura da sorte e em muitas outras formas de adivinhação. E, segundo um especialista em história romana, Edward Gibbon, 

“as várias modalidades de adoração que prevaleciam no mundo romano eram consideradas igualmente verdadeiras pelo povo”. 

O famoso estadista e orador Cícero era perito em procurar presságios no vôo das aves. O historiador romano Petrônio observou que, a julgar pela profusão de religiões e cultos em algumas cidades romanas, deve ter havido mais deuses do que pessoas nelas.

28 Na China, foram escavados mais de 100.000 pedaços de ossos e conchas de oráculo datados do segundo milênio AEC (dinastia Xang). Eram usados pelos sacerdotes xang na busca de orientação divina para tudo, das condições do tempo ao movimento de tropas. Os sacerdotes escreviam perguntas nesses ossos, numa escrita antiga. Daí, esquentavam os ossos, examinavam as rachaduras que surgiam e anotavam as respostas nos mesmos ossos. Alguns estudiosos crêem que desses antigos caracteres desenvolveu-se a escrita chinesa.

29 O mais bem-conhecido tratado chinês sobre adivinhação é o I Ching (Cânone de Mudanças), alegadamente escrito pelos dois primeiros imperadores Chou, Wen Wang e Chou Kung, no século 12 AEC. Ele contém detalhadas explicações sobre a interação das duas forças opostas, yin e yang, (escuro-claro, negativo-positivo, feminino-masculino, lua-sol, terra-céu, e assim por diante), que muitos chineses ainda crêem que sejam os princípios controladores por trás de todos os assuntos da vida. Apresenta o conceito de que tudo está sempre mudando e que nada é permanente. Para ter êxito em qualquer empreendimento, a pessoa tem de aperceber-se de todas as mudanças do momento e agir concordemente. Assim, as pessoas fazem perguntas, lançam sortes, e daí recorrem ao I Ching em busca de respostas. No decorrer dos séculos, o I Ching tem sido a base para todo tipo de leitura da sorte, geomancia e outras formas de adivinhação na China.

Da Astronomia à Astrologia

30 O funcionamento ordeiro do sol, da lua, das estrelas e dos planetas há muito tem sido uma fonte de fascínio para as pessoas na terra. Descobriram-se na Mesopotâmia catálogos de estrelas que remontam a 1800 AEC. Baseados em tais informações, os babilônios conseguiam prever muitos eventos astronômicos, como eclipses lunares, o nascimento e o ocaso de constelações e certos movimentos dos planetas. Egípcios, assírios, chineses, indianos, gregos, romanos e outros povos antigos, também observavam o céu e mantinham detalhados registros de eventos astronômicos. À base desses registros eles elaboravam seus calendários e programavam as suas atividades anuais.

31 À base de observações astronômicas, percebeu-se que certos eventos na terra pareciam sincronizar-se com certos eventos celestes. Por exemplo, a mudança de estações seguia de perto o movimento do sol, o fluxo e refluxo das marés acontecia segundo as fases da lua e a inundação anual do Nilo sempre se seguia ao aparecimento de Sírius, a estrela mais brilhante. A dedução lógica foi que os corpos celestes desempenhavam um papel significativo na causa destes e de outros eventos na terra. De fato, os egípcios chamavam Sírius de Formadora do Nilo. A idéia de que as estrelas influenciavam os eventos na terra rapidamente levou ao conceito de que os corpos celestes poderiam ser usados para predizer o futuro. Assim, a astronomia fez surgir a astrologia. Logo, reis e imperadores mantinham astrólogos oficiais nas cortes para consultar as estrelas concernente a importantes assuntos nacionais. Mas, o povo comum também recorria às estrelas com respeito à sua sorte pessoal.

32 Os babilônios, mais uma vez, entram em cena. Eles encaravam as estrelas como morada celestial dos deuses, assim como os templos eram suas moradas terrestres. Isto fez surgir o conceito de agrupar as estrelas em constelações, bem como a crença de que os distúrbios nos céus, tais como os eclipses ou a aparição de certas estrelas ou cometas brilhantes, pressagiavam tristeza e guerra na terra. Centenas de relatórios de astrólogos a reis foram encontrados entre os artefatos escavados na Mesopotâmia. Alguns destes diziam, por exemplo, que um iminente eclipse lunar era sinal de que certo inimigo sofreria derrota, ou que o aparecimento de certo planeta numa determinada constelação seria prenúncio de “grande ira” na terra.

33 Até que ponto os babilônios fiavam-se nessa forma de adivinhação vê-se também nas palavras censuradoras do profeta Isaías contra eles, ao predizer a destruição de Babilônia: “Fica, pois, com os teus encantamentos e com a abundância das tuas feitiçarias em que labutaste desde a tua mocidade . . . Que se ponham de pé, pois, e que te salvem, os adoradores dos céus, os contempladores das estrelas, os que divulgam conhecimento nas luas novas a respeito das coisas que virão sobre ti.” — Isaías 47:12, 13.

34 De Babilônia a astrologia foi exportada para o Egito, Assíria, Pérsia, Grécia, Roma e Arábia. No Oriente, os hindus e os chineses também tinham seus apurados sistemas de astrologia. Os “magos” que segundo o evangelista Mateus foram ver o menino Jesus eram “astrólogos das regiões orientais”. (Mateus 2:1, 2) Alguns estudiosos crêem que estes astrólogos talvez fossem da escola caldaica e medo-persa de astrologia, de Pártia, que havia sido província da Pérsia, transformando-se mais tarde no independente Império Parto.

35 Foram os gregos, porém, que deram à astrologia a sua forma atual. No segundo século EC, Cláudio Ptolomeu, astrônomo grego de Alexandria, Egito, reuniu todas as existentes informações astrológicas em quatro livros, chamados Tetrabiblos, que têm servido como texto básico de astrologia até hoje. Disso desenvolveu-se o que é comumente chamado de astrologia natal, isto é, um sistema para predizer o futuro duma pessoa estudando a sua carta de nascimento, ou horóscopo — um mapa que mostra a posição do sol, da lua e de vários planetas entre as constelações, conforme visto da localidade em que a pessoa nasceu e no momento de seu nascimento.

36 Por volta dos séculos 14 e 15, a astrologia já ganhara ampla aceitação no Ocidente. Universidades ensinavam-na como disciplina, o que exigia conhecimento prático de línguas e matemática. Os astrólogos eram considerados eruditos. Os escritos de Shakespeare fazem muitas alusões às influências astrológicas nos assuntos humanos. Todas as cortes reais e muitos nobres mantinham astrólogos particulares para pronta consulta. Dificilmente empreendia-se um projeto — guerra, construção, negócios, ou viagem — sem primeiro consultar as estrelas. A astrologia tornara-se respeitável.

37 Ainda que o trabalho de astrônomos como Copérnico e Galileu, junto com o progresso da inquirição científica, tenham grandemente desacreditado a astrologia como ciência legítima, ela sobreviveu até hoje. (Veja quadro, página 85.) De chefes de Estado ao homem comum, seja de nações tecnologicamente avançadas, seja de remotos vilarejos em países em desenvolvimento, esta misteriosa arte, iniciada pelos babilônios, desenvolvida pelos gregos e adicionalmente expandida pelos árabes, ainda exerce hoje uma ampla influência.

O Destino Escrito na Face e na Palma da Mão

38 Se olhar para o céu em busca de sinais e presságios sobre o futuro parecer intangível, há outros métodos mais pronta e facilmente acessíveis aos que se aventuram na arte de adivinhação. O Zohar, ou Sefer ha-zohar (em hebraico: Livro do Esplendor), um texto do século 13 sobre misticismo judaico, dizia:

“No firmamento que envolve o universo, vemos muitas configurações formadas pelas estrelas e planetas. Elas revelam coisas ocultas e profundos mistérios. Similarmente, na pele que cobre o ser humano existem formas e traços que são as estrelas do nosso corpo.”

Esta filosofia levou a outras formas de adivinhação, ou predição do futuro, ou seja, examinar a face e a palma da mão em busca de sinais proféticos. Tanto no Oriente como no Ocidente, tais práticas ainda são bem difundidas. Mas, é óbvio que têm suas raízes na astrologia e na magia.
39 Fisiognomonia é ler a sorte examinando as feições da face, como o formato dos olhos, do nariz, dos dentes e das orelhas. Em Estrasburgo, em 1531, certo João de Indagine publicou um livro sobre o assunto, em que proveu vívidas gravuras de faces com variados formatos de olhos, nariz, orelhas, e assim por diante, junto com suas interpretações. Curiosamente, ele citou as palavras de Jesus Cristo em Mateus 6:22, “se, pois, o teu olho for singelo, todo o teu corpo será luminoso”, como base para dizer que olhos grandes, luminosos e redondos significavam integridade e boa saúde, ao passo que olhos fundos e pequenos eram sinais de inveja, malícia e desconfiança. Contudo, num livro similar, Compendium of Physiognomy (Compêndio de Fisiognomonia), publicado em 1533, o escritor Bartolomeu Cocle afirmava que olhos grandes e redondos indicavam uma pessoa instável e preguiçosa.

40 Segundo os adivinhos, depois da cabeça, o que melhor do que qualquer outra parte do corpo reflete as forças do alto é a mão. Assim, ler as linhas da palma da mão para determinar o caráter e o destino da pessoa é outra forma comum de adivinhação — quiromancia, ou simplesmente leitura da mão. Quiromantes da Idade Média procuravam na Bíblia apoio para a sua arte. Apresentaram versículos tais como: “Ele sela as mãos de todo o homem, para que conheçam todos os homens a sua obra”, e: “Aumento de dias há na sua mão direita: na sua esquerda riquezas e honra.” (Jó 37:7; Provérbios 3:16, Al) As protuberâncias, ou montes, da mão foram também levadas em conta, pois pensava-se que representavam os planetas e, portanto, revelavam algo a respeito do indivíduo e seu futuro.

41 Ler a sorte analisando as feições da face e das mãos é extremamente comum no Oriente. Além dos adivinhos e consultores profissionais que oferecem seus serviços, os amadores e curiosos proliferam, pois há ampla disponibilidade de livros e publicações de todos os níveis. As pessoas não raro procuram a leitura da palma da mão como diversão, mas muitos levam tais coisas a sério. Contudo, em geral, as pessoas raramente se contentam em empregar apenas um único meio de adivinhação. Diante de problemas sérios ou decisões importantes, elas vão a seu templo, quer budista, taoísta, xintoísta, quer outro, para inquirir dos deuses, daí ao astrólogo para consultar as estrelas, ao adivinhador para ler a palma da mão e examinar a face, e, depois de tudo isso, voltam para casa e consultam seus ancestrais falecidos. Elas esperam, em alguma parte, encontrar uma resposta que as satisfaça.
Simples Diversão Inocente?

42 É natural que cada um queira saber o que o futuro reserva. O desejo de ter sucesso e evitar o que é prejudicial é também universal. É por isso que as pessoas através das eras têm recorrido a espíritos e deidades em busca de orientação. Ao assim fazerem, envolveram-se em espiritismo, magia, astrologia e outras práticas supersticiosas. As pessoas no passado usavam amuletos e talismãs para se protegerem, ou recorriam a curandeiros e xamãs em busca de cura. As pessoas hoje ainda usam medalhas de “São” Cristóvão, portam amuletos de “boa sorte”, têm suas sessões espíritas, pranchetas Ouija, bolas de cristal, horóscopos e cartas de tarô. No que tange a espiritismo e superstição, parece que a humanidade pouco mudou.

43 Muitos, naturalmente, sabem que tudo isso não passa de superstição, e que não existe fundamento para essas coisas. E talvez acrescentem que as praticam apenas por diversão. Outros até mesmo argumentam que a magia e a adivinhação são realmente benéficas, pois dão segurança psicológica a pessoas que de outra forma talvez se acovardassem diante dos obstáculos que enfrentam na vida. Mas, será tudo isso uma simples diversão inocente ou apoio psicológico? Qual realmente é a fonte das práticas espíritas e da magia que consideramos neste capítulo, bem como das muitas outras que não mencionamos?

44 Examinando os vários aspectos do espiritismo, da magia e da adivinhação, notamos que estão intimamente ligados a crenças em almas que partiram e à existência de espíritos, bons e maus. Assim, fundamentalmente, a crença em espíritos, magia e adivinhação baseia-se numa forma de politeísmo arraigada na doutrina da imortalidade da alma humana. É esta uma base sólida sobre a qual construir a sua religião? Consideraria aceitável a adoração baseada em tal fundamento?

45 Os cristãos do primeiro século viram-se confrontados com essas mesmas perguntas. Viviam rodeados pelos gregos e romanos, com seus muitos deuses e deidades, bem como seus rituais supersticiosos. Um de tais rituais consistia em oferecer alimentos a ídolos e daí participar em comer de tais alimentos. Deveria participar em tais rituais aquele que amasse o Deus verdadeiro e desejasse agradá-lo? Note como o apóstolo Paulo respondeu a esta pergunta.
46 “Ora, acerca de comer alimentos oferecidos a ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há Deus senão um só. Pois, embora haja os que se chamem ‘deuses’, quer no céu, quer na terra, assim como há muitos ‘deuses’ e muitos ‘senhores’, para nós há realmente um só Deus, o Pai, de quem procedem todas as coisas, e nós para ele.” (1 Coríntios 8:4-6) Para Paulo e os cristãos do primeiro século, a verdadeira religião não significava a adoração de muitos deuses, não o politeísmo, mas sim a devoção a apenas “um só Deus, o Pai”, cujo nome a Bíblia revela, dizendo: “Para que as pessoas saibam que tu, cujo nome é Jeová, somente tu és o Altíssimo sobre toda a terra.” — Salmo 83:18.

47 Mas, deve-se notar que, embora o apóstolo Paulo dissesse que “o ídolo nada é”, ele não disse que os “deuses” e “senhores”, aos quais as pessoas recorriam com a sua magia, adivinhação e sacrifícios, não existiam. Qual, então, é o ponto? Paulo esclareceu isso mais adiante na mesma carta, quando escreveu: “Mas digo que as coisas sacrificadas pelas nações, elas sacrificam a demônios, e não a Deus.” (1 Coríntios 10:20) Sim, através de seus deuses e senhores, as nações adoravam realmente os demônios — criaturas angélicas, ou espirituais, que rebelaram-se contra o Deus verdadeiro e uniram-se a seu líder, Satanás, o Diabo. — 2 Pedro 2:4; Judas 6; Revelação (Apocalipse) 12:7-9.

48 Não raro as pessoas compadecem-se dos chamados povos primitivos que eram escravizados por suas superstições e temores. Dizem que sentem repulsa aos sacrifícios sangrentos e rituais selvagens. E de direito. Todavia, ainda hoje se ouve falar de macumba, candomblé, vudu, cultos satânicos e até mesmo de sacrifícios humanos. Embora talvez sejam casos extremos, tais práticas não obstante demonstram que o interesse pelo ocultismo continua muito vivo. Pode começar como ‘diversão inocente’ e curiosidade, mas o resultado não raro é tragédia e morte. Quão sábio é acatar o aviso da Bíblia:


 “Mantende os vossos sentidos, sede vigilantes. Vosso adversário, o Diabo, anda em volta como leão que ruge, procurando a quem devorar.” — 1 Pedro 5:8; Isaías 8:19, 20.

49 Tendo considerado como a religião começou, a diversidade nas antigas mitologias e as várias formas de espiritismo, magia e superstições, voltaremos agora a nossa atenção para as mais formais e principais religiões do mundo — hinduísmo, budismo, taoísmo, confucionismo, xintoísmo, judaísmo, as igrejas da cristandade e o islamismo. Como começaram? O que ensinam? Que influência têm sobre seus fiéis? Estas e outras perguntas serão consideradas nos próximos capítulos.

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