Caros leitores, no dia 23 de abril foi divulgado novo número para o desemprego no Brasil. No mês de março foram fechadas mais de 118 mil vagas com carteira assinada, sendo que em 12 meses este número já chega a impressionantes 1,8 milhão. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a taxa de desemprego já está em 10,2%, o que representaria 10,4 milhões de pessoas. Aí você para e pensa: Mas ué, o Brasil tem mais de 205 milhões de pessoas, mesmo tirando aposentados, incapacitados, crianças e outros tipos, não parece 10,2% uma taxa ainda baixa, considerando a situação atual?
Bem, com certeza você conhece muita gente que perdeu o emprego nos últimos meses. Para se ter ideia, por esse número oficial, em outubro a taxa estava próxima a 7,6%, ou seja, em apenas 5 meses aumentou 34%, que é bastante significativo. Entretanto, o que não te contaram é que essa matemática é um tanto quanto esquisita. Explico.
Em primeiro lugar, é preciso entender que o IBGE utiliza dados coletados de aproximadamente 38.500 domicílios situados nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, levando-se em consideração o número de pessoas economicamente ativas, sendo que as pessoas ocupadas são, somente:
Empregados (trabalham para um ou mais empregadores, com carteira de trabalho ou não, cumprindo uma jornada de trabalho estipulada recebendo dinheiro ou outra forma de pagamento);
Autônomos (trabalham por conta própria, incluindo o trabalho informal e esporádico – desde que trabalhe 15 horas por semana. Aqui estão incluídas pessoas como ambulantes, artistas de rua, etc.);
Empregadores;
Não remunerados (aprendiz, voluntários, trabalho para instituições religiosas ou beneficentes e até mesmo que faz bicos em troca de algum favor ou serviço, sem ter dinheiro envolvido).
Essa metodologia, portanto, considera empregados apenas as pessoas que não necessariamente recebem salário, assim como aquelas que trabalham menos do que gostariam, já que têm tempo disponível, mas não encontram um trabalho que possa pagar por uma jornada completa. Dessa forma, recebem menos até que um salário mínimo via trabalho informal. Pessoas que trabalham como ambulantes, desde vendedores de carregador de celular no semáforo, até artistas circenses de rua, são considerados empregados. É isso mesmo!
Neste grupo de pessoas economicamente ativas, também são consideradas as pessoas desocupadas, que para a metodologia do IBGE, são aquelas que não tem nenhum trabalho, mas o procuram, tomando providências efetivas em busca de emprego, como consulta a classificados, envio de currículos, cadastro em empresas de recrutamento, entre outros. Dessa forma, não é considerado como desempregado ou desocupado, uma pessoa que não está efetivamente procurando emprego. É aí que mora a maior contradição deste indicador.
A verdade é que considerando a população economicamente ativa (PEA), temos uma grande parte de desocupados que não integram a estatística do IBGE. Dentro desta amostra, temos uma parcela de estudantes, que não trabalha mas estuda. Esse será um novo trabalhador em potencial em algum tempo e, mais qualificado, o que é ótimo. Entretanto, temos o que chamamos de “nem-nem”, população a qual nem trabalha, nem estuda e também não está procurando emprego. Esses, segundo o IBGE, são os desalentados e não influenciam no índice de desemprego.
Boa parte dos considerados desalentados, os “nem-nem”, fazem parte do programa Bolsa-Família, e outra parte acaba ficando dentro da população economicamente não-ativa. Em torno de 14 milhões de famílias no Brasil recebem o auxílio, atingindo cerca de 50 milhões de pessoas, o que representa 1 em cada 4 brasileiros. Um quarto da população do Brasil recebe este auxílio que é destinado a pessoas com renda familiar per capta inferior a R$77 por mês ou, no caso de famílias que tenham em sua composição gestantes, mães em fase de amamentação e crianças com idade entre 0 e 16 anos, com a renda per capta de até R$154,00 por mês. Desde o início deste programa da forma como é conhecido hoje, apenas 1,7 milhão de famílias deixaram o programa por informarem renda superior aos limites estabelecidos. Além disso, as pessoas que estão recebendo o seguro-desemprego, também não são consideradas desempregadas, apenas em “desalento”.
É um grande paradoxo ter 25% da população brasileira recebendo este benefício e ter “apenas” 10,2% de desempregados, certo? Essa disparidade fica mais evidente quando vemos o índice de desemprego medido pelo DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, que tem diferenças de metodologia de cálculo para o do IBGE. Infelizmente, o DIEESE faz estudos apenas nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte e no Distrito Federal. Em São Paulo, por exemplo, esta instituição mediu que o desemprego chegou a 14,7% no mês de março.
Outro problema que deve ser destacado é a diminuição da renda real do trabalhador. Com as recentes levas de demissões com o agravamento da crise, temos uma oferta maior de trabalhadores que precisam de emprego, o que vai leva-los a aceitar empregos com salários menores.
Basicamente, a baixa taxa de desemprego artificial, ajudou a mascarar a desaceleração da economia e enfraquecimento geral do mercado de trabalho no Brasil. Essa foi, inclusive, uma forma de o governo se manter otimista para com o público, principalmente durante a campanha eleitoral, sustentada por um desemprego falso, porém com uma inflação galopante (que corrói ainda mais o poder de compra do trabalhador), juros voltando a subir, endividamento das famílias superior a 47% da renda (no caso de famílias de até 3 salários mínimos é de 70%), entre tantos outros problemas.
Cabe dizer que os salários subiram nos últimos anos mesmo sem haver lastro em produtividade, refletindo em parte o aumento do salário mínimo. Na prática isso quer dizer que não houve geração de riqueza suficiente que justificasse esses aumentos, trazendo desemprego no longo prazo. E um detalhe, os empregos no setor público não caíram, pelo contrário, aumentaram! Isso mostra a clara disparidade do setor público e privado em relação ao mercado e suas forças. O setor público se mantém inchado e dispendioso, enquanto que o setor privado mingua. A indústria foi o setor que mais demitiu no último ano, porém o comércio foi o destaque do mês de março com o pior saldo de demissões. Acredito que o número real de desemprego passe dos 20% e ainda há desafios enormes para resolvermos a questão da produtividade, além da questão do assistencialismo sem projetos para o futuro.
Ainda vai piorar muito antes de melhorar e é preciso tomar medidas urgentes para que o Brasil volte a crescer. Enquanto há imbróglio político e apenas preocupações em torno de alianças para se manterem ativos e no poder, nada é feito de fato para melhorar uma situação que já é grave para boa parte dos brasileiros. Será que o pós-impeachment vai conseguir dar conta do recado?
Renata Barreto
FONTE: INFOMONEYLEIA TAMBEM:
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