Como
“Cordeiro de Deus” Jesus não tinha defeito, sendo, sem dúvida, um homem de boa
aparência. (João 1:29; Hebreus 7:26) E, com certeza, não estampava sempre
aquele ar melancólico que lhe atribui a arte popular. É verdade que Jesus
passou por muitos eventos estressantes, mas, na sua disposição geral, ele
espelhou com perfeição seu Pai, o “Deus feliz”. — 1 Timóteo 1:11; Lucas 10:21;
Hebreus 1:3.
Era
longo o cabelo de Jesus? Apenas os nazireus não deviam cortar o cabelo nem
beber vinho, e Jesus não era nazireu. De modo que ele, sem dúvida, usava um
cabelo bem aparado, como os varões judeus em geral. (Números 6:2-7) Ele também
apreciava tomar vinho moderadamente, na companhia de outros, o que reforça a
idéia de que não era um indivíduo tristonho. (Lucas 7:34) De fato, ele fez
vinho realizando um milagre numa festa de casamento em Caná da Galiléia. (João
2:1-11) E obviamente usava barba, evidenciado por uma profecia sobre seu
sofrimento. — Isaías 50:6.
E que
dizer dos traços físicos de Jesus? Provavelmente eram semitas. Ele os teria
herdado de sua mãe, Maria, que era judia. Os ancestrais dela também eram
judeus, da linhagem dos hebreus. De modo que os traços físicos de Jesus
provavelmente eram como os de um judeu comum.
Mesmo
entre seus apóstolos, Jesus evidentemente não se destacava como fisicamente
muito diferente, pois Judas teve de traí-lo aos seus inimigos com um beijo
identificador. Portanto, Jesus podia facilmente misturar-se no meio de
multidões. E ele fez isso, pois, pelo menos uma vez, viajou da Galiléia a
Jerusalém sem ser reconhecido. — Marcos 14:44; João 7:10, 11.
Alguns
concluem, porém, que Jesus era frágil. Por que dizem isso? Por um lado, ele
precisou de ajuda para carregar a estaca de tortura. E, dos três homens
executados na estaca, ele foi o primeiro a morrer. — Lucas 23:26; João 19:17,
32, 33.
Jesus não
era frágil
Contrário
à tradição, a Bíblia não descreve Jesus como sendo frágil ou efeminado. Na
verdade, ela diz que, ainda jovem, ele “progredia em sabedoria e em
desenvolvimento físico, e no favor de Deus e dos homens”. (Lucas 2:52) Por
quase 30 anos ele trabalhou como carpinteiro. Este parece não ser um ofício
para uma pessoa franzina, especialmente naquele tempo, quando não havia máquinas
modernas que poupam trabalho. (Marcos 6:3) Também, Jesus expulsou o gado, as
ovelhas e os cambistas do templo, derrubando suas mesas. (João 2:14, 15) Isso
também sugere uma pessoa varonil e robusta.
Nos
últimos três anos e meio de sua vida na Terra, Jesus caminhou centenas de
quilômetros em viagens de pregação. No entanto, seus discípulos jamais
sugeriram que ele ‘descansasse um pouco’. Ao contrário, foi Jesus quem disse
para eles, alguns dos quais eram rijos pescadores: ‘Vinde, em particular, a um
lugar solitário, e descansai um pouco.’ — Marcos 6:31.
De
fato, “a inteira narrativa evangélica”, diz a Cyclopœdia de M’Clintock e
Strong, “indica que a saúde física [de Jesus] era boa e vigorosa”. Então, por
que precisou de ajuda para carregar a estaca de tortura, e por que morreu antes
dos outros executados junto com ele?
Um
fator-chave é a aflição extrema. Perto do dia de sua execução, Jesus disse:
“Deveras, tenho um batismo com que devo ser batizado, e como estou aflito até
que termine!” (Lucas 12:50) Essa aflição virou “agonia” na sua última noite.
Diz o relato: “Ficando em agonia, continuava a orar mais seriamente; e seu suor
tornou-se como gotas de sangue caindo ao chão.” (Lucas 22:44) Jesus sabia que
as perspectivas de vida eterna da humanidade dependiam de sua integridade até a
morte. Que responsabilidade! (Mateus 20:18, 19, 28) Ele também sabia que seria
executado como criminoso ‘amaldiçoado’ pelo próprio povo de Deus. Assim, ele
temia que isso causasse vitupério contra seu Pai. — Gálatas 3:13; Salmo 40:6,
7; Atos 8:32.
Depois
de ter sido traído, Jesus sofreu uma série de crueldades. Num julgamento
simulado realizado bem depois da meia-noite, as principais autoridades do país
o ridicularizaram, cuspiram nele e deram-lhe socos. Para dar ao julgamento da
madrugada um ar de legitimidade, houve outro julgamento de manhã cedo. Nesse,
Jesus foi interrogado por Pilatos; daí por Herodes, que, junto com seus
soldados, zombou dele; e de novo por Pilatos. Por fim, Pilatos mandou
açoitá-lo. E não eram chicotadas comuns. A revista JAMA, da Associação Médica
Americana, disse a respeito da prática romana do açoite:
“O
instrumento costumeiro era um chicote curto . . . com várias correias, simples
ou trançadas, de diversos comprimentos, nas quais bolinhas de ferro ou afiadas
lascas de osso de ovelha eram amarradas em intervalos. . . . À medida que os
soldados romanos repetidamente açoitavam as costas da vítima com toda a força,
as bolinhas de ferro causavam profundas contusões, e as correias e os ossos de
ovelha cortavam os tecidos cutâneos e subcutâneos. Daí, ao passo que a
fustigação prosseguia, as lacerações dilaceravam os músculos subjacentes do
esqueleto e produziam tremulantes tirinhas de carne viva.”
Obviamente,
a vitalidade de Jesus já estava comprometida bem antes de ele envergar-se sob o
peso da estaca que carregava. De fato, a revista JAMA observou: “O abuso físico
e mental infligido pelos judeus e pelos romanos, bem como a falta de alimentos,
água e sono, também contribuíram para o enfraquecimento geral de sua condição.
Assim, mesmo antes da crucificação em si, o estado físico de Jesus era no
mínimo grave e, possivelmente, crítico.”
É
importante a questão da aparência?
Do
espúrio retrato escrito de Lêntulo às obras de famosos artistas e aos modernos
vitrais, a cristandade parece apaixonada pelo que cativa os olhos. “O
excepcional poder evocativo da imagem de Jesus Cristo deve ser preservado”,
disse o arcebispo de Turim, guardião do polêmico Sudário de Turim.
No
entanto, a Palavra de Deus omite deliberadamente tais detalhes ‘evocativos’ da
aparência de Jesus. Por quê? Porque eles provavelmente distrairiam do que
significa vida eterna — o conhecimento bíblico. (João 17:3) O próprio Jesus,
que é nosso real exemplo, ‘não olha’, ou acha importante, “a aparência externa
dos homens”. (Mateus 22:16; note Gálatas 2:6.) Destacar a aparência de Jesus,
não havendo nenhuma menção dela nos Evangelhos inspirados, é ir de encontro ao
próprio espírito desses Evangelhos.
Arranjo: Jefferson