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VULCÕES: A verdade por trás da erupção do vulcão Toba, que quase extinguiu a espécie humana

Um desastre natural levou a humanidade à beira da extinção

Considera-se que a humanidade tem aumentado em aceleração contínua desde a pré-história. Mas há 70 milênios, por pouco o Homo sapiens não desapareceu.

Há cerca de 3 mil gerações – um piscar de olhos na escala de tempo da evolução – a população humana sobre a Terra caiu a ponto de todos os que viviam no planeta caberem em um pequeno estádio de futebol. 

Fartas evidências genéticas indicam que a população humana estava reduzida a talvez menos que 10 mil indivíduos. Uma pesquisa chega a sugerir que o número de mulheres não passava de 500. 

Durante séculos, cada geração de Homo sapiens poderia facilmente ter sido a última.

mudança do clima
As evidências dessa crise populacional permanecem em cada um de nós, no DNA que todos carregamos. Há uma variação muito pequena no código genético humano, fato que os pesquisadores recentemente tentaram explicar rastreando nossa herança genética no passado longínquo. 

A variação medida apontava para um período em que pode ter havido um número reduzidíssimo de fêmeas procriando a espécie. Outras pesquisas de DNA confirmaram a descoberta e fixaram o período em que a crise ocorreu em cerca de 70 mil anos atrás.

Catástrofe global

Embora tivessem determinado a dimensão e a época do colapso populacional, os geneticistas não sabiam sua causa. Mas pode ser que ela esteja sob nossos pés. 

Depósitos de cinzas e fragmentos de rocha forneceram evidências de um dos desastres naturais mais graves da história, que, segundo paleoclimatologistas e geólogos, ocorreu há exatamente 71 mil anos.

A causa foi a erupção do vulcão Toba, na ilha indonésia de Sumatra. Foi a maior explosão vulcânica dos últimos dois milhões de anos, e uma das maiores dos últimos 450 milhões de anos; seus efeitos foram sentidos em todo o globo.

Um desastre dissecado

A catástrofe do Toba quase causou nossa extinção exatamente por ter sido um evento repentino. Uma mudança climática gradual teria permitido que as pessoas se adaptassem à escassez da vida vegetal e animal, mas não houve aviso para o desastre.

Anos atrás

A população chegou ao ponto crítico 70 mil anos atrás, e foram necessários 20 mil anos para sua recuperação.

Os cientistas calculam que a coluna de cinzas emitida pelo Toba chegou a 30 km de altura, duas vezes mais do que o necessário para causar uma alteração climática global. Seus efeitos foram sentidos em todo o planeta em questão de dias.

O pior estava por vir: as taxas de isótopos de oxigênio em amostras de estratos do solo revelam que as temperaturas de verão caíram em média 12ºC no início da erupção.

Com a formação das geleiras, o nível do mar caiu, deixando à mostra uma paisagem em que o solo exposto poderia ser varrido pelo vento. Traços do cálcio do solo dispersado podem ser encontrados nas geleiras da Groenlândia, demonstrando que deve ter havido tempestades de areia por dias a fio, matando plantas e privando humanos e animais de fontes de alimento.

Curva de crescimento 

A pior crise já vivida pela espécie humana levou-a quase à extinção. Porém, com a melhora do clima, a população explodiu em crescimento exponencial, expandindo-se pelo globo.

Frio intenso

A magnitude da erupção foi registrada não apenas pelo tamanho da cratera, mas também pelos depósitos de cinzas, enxofre e cálcio encontrados nas rochas e amostras de gelo de lugares tão distantes como a Groenlândia, a 11 mil km de distância.

Indícios da erupção

Amostras de gelo retiradas de orifícios escavados nas geleiras do planeta apresentam depósitos de enxofre, cinzas e partículas reveladoras, como pólen. Esse material pode ajudar a determinar quando a erupção do Toba ocorreu e durante quanto tempo seus efeitos foram sentidos no planeta.

A erupção em si aparentemente durou cerca de duas semanas e foi seguida de seis anos de “inverno vulcânico”, durante o qual nuvens pesadas bloquearam o sol. Depois, seguiram-se ao menos mais mil anos de resfriamento global. Hoje é difícil avaliar a extensão desse cataclisma avassalador.

Alguns seres humanos podem ter perecido na erupção, mas a crise populacional identificada pelos geneticistas foi quase certamente resultado do que viria depois, uma queda de temperatura em todo o planeta da ordem de 12ºC.

O ambiente em que a população humana vivia tornou-se mais frio e seco, causando a degradação de muitos ecossistemas. Sementes não conseguiam mais germinar, e a luz inadequada teria enfraquecido as plantas, deixando-as sem viço. Animais teriam morrido aos milhares, espalhando pelo solo carcaças em decomposição impróprias para o consumo.

Famintas e desesperadas, teria sido difícil para as pessoas gerarem filhos, e mais ainda criá-los. Assoladas pela fome, as crianças teriam sido as primeiras a morrer, seguidas das mulheres. Foi um duro golpe para nossa espécie.

As populações que já haviam deixado as regiões tropicais e subtropicais devem ter sido dizimadas pelo frio. Em latitudes mais altas, os neandertais, embora biologicamente adaptados às condições, aparentemente declinaram em número e abandonaram o norte da Europa. Embora os números populacionais referentes a antes do desastre de Toba não sejam conhecidos, é certo que depois da erupção nossa espécie chegou perto da extinção.

Poderíamos ter sido varridos da existência antes de pintar as paredes das cavernas e de caçar mamutes, como os neandertais e outras espécies extintas de primatas hominídeos.

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A salvo do desastre

O Homo sapiens sobreviveu porque havia no mundo três áreas tropicais de alto índice pluviométrico, cujo solo conseguia sustentar um número maior de pessoas. Elas estavam todas na África, onde existem evidências de uma expansão humana depois da crise. Ferramentas e gravuras de 70 mil anos atrás indicam que ocorreram focos de desenvolvimento humano na África muito antes de em qualquer outro lugar.

Assim, de uma coisa pode-se ter certeza: devemos nossa existência àquelas populações que, por sorte ou engenhosidade, conseguiram sobreviver ao desastre geológico que vitimou o resto da espécie.