Este texto é extenso e é uma reflexão pessoal sobre a educação em meu país. Eu sou educador e conheço minhas responsabilidades. Sou educador por que sou pai e não professor! São coisas absolutamente distintas e eu jamais permitiria que um professor educasse minhas filhas. Também é uma reflexão quanto aos avanços tecnológicos dos últimos tempos e seu impacto na educação. Sou uma das pessoas mais entusiasmadas com a tecnologia e já sonhei em realizar projetos que tornassem a vida das pessoas melhores. Porém, existe uma abismo entre o que as pessoas necessitam e o que elas querem de fato. Poderíamos estar vivendo ao menos cento e cinquenta anos a frente se Rudolf Diesel, Nikola Tesla, Paul Pantone, Eugene Mallove, Stanley Meyer e tantos outros nomes fossem mais discutidos nas universidades e seus trabalhos não tivessem sido desprezados. Estou longe de acreditar na existência de uma rede conspiratória porque há outras razões para que esses nomes sejam desconhecidos atualmente.
Especificamente, escolhi registrar sobre o uso de uma tecnologia muito popular atualmente: o Facebook! Tenho de fazer uma correção antes por que, pelo meu histórico, haverão muitos acreditando que sou crítico desse instrumento. Estão errados! Acho as redes sociais uma revolução. São excelentes ferramentas para Networking, aproximar pessoas de soluções, e até como vantagem quanto ao tempo e o custo que podem economizar. As redes realmente são o que as pessoas fazem delas e esse é o fator que as torna uma ameaça a felicidade de seus usuários. Conheço pessoas que mudaram de vida e conquistaram uma liberdade financeira apenas por utilizarem melhor as redes e também conheço pessoas que reconstroem um estado de frustração todos os dias apenas ao acessar seus perfis. Em resumo, as redes, como o Facebook, não são boas ou más, o uso delas pode trazer satisfação ou desilusão. Por alguma razão exótica, a maioria das pessoas escolhe se destruir dia após dia.
Excluindo-se as pessoas que fazem das redes sociais o seu ganha pão, não é necessário muito exercício racional para perceber que quanto mais uma pessoa mergulha nesse oceano de vazio existencial, mais frustração acumulam. Suas vidas se tornam diluídas em uma ilusão de realidade onde cada um tenta fazer do seu momento um registro de falsa felicidade. A vida com as redes poderia ser muito mais simples e prazerosa. Consigo ver uma esposa que auxilia seu marido perdido no centro de São Paulo a encontrar seu destino apenas com a ajuda do Whatsapp. Vejo tantas coisas maravilhosas que um simples celular é capaz de fazer para melhorar a vida das pessoas, porém, vejo as pessoas cada vez mais infelizes com tanta praticidade ao seu alcance. É a falta de educação que nos condena a essa armadilha. Nem os cientistas da atualidade estão mais preocupados em melhorar a vida das pessoas. Seus projetos agora são voltados a responder a esse consumo ávido de ilusões. Não se projetam mais veículos de baixo custo que não agridem o meio ambiente. O foco agora são os instrumentos que facilitam a comunicação das pessoas. E como é essa comunicação hoje? Uma aberração jamais pensada pelos futuristas mais pessimistas como Adous Huxley ou George Orwell.
Destruindo a linguagem, aniquilamos o pensamento. Aniquilando o pensamento, destruiremos a raça humana. Não será uma catástrofe que nos apagará desse mundo. Será nossa incapacidade de nos comunicar... Por excesso de comunicação!! Desisti de ser professor por que entendi (e não sou o único), que o sistema educacional contemporâneo está emburrecendo os alunos. Mesmo com tudo o que aprendemos sobre o funcionamento do cérebro humano (e ainda é pouquíssimo), existem pedagogos abestados que querem trazer para a sala de aula as redes sociais, a internet, o tablet... Isso não é avanço! É criar um muro de dependência, matar a criatividade, construir uma sociedade colmeia e, dessa forma, sim, patrocinar um mundo onde uma elite domina toda uma massa. Não existe (ainda) um grupo de pessoas más conspirando para que todos sejam burros para que ao final possam dominar tudo... As pessoas estão fazendo isso a si mesmas. Estão construindo os muros físicos da própria prisão que já existe emocionalmente.
Nossa existência nesse mundo se resume a aproximadamente 631.756,8 horas. Sobre um terço disso, cerca de 210.585,6 horas não temos controle algum por que é o tempo que dedicamos ao sono responsável pela manutenção do nosso cérebro. Do restante, uma absurda fração das 421.171,2 horas, nós trocamos por dinheiro por que é o tempo que vendemos a um empregador. Numa situação normal, e para uma mulher, seria equivalente a 263.232 horas que ela também não possui controle algum, pois vendeu esse tempo a alguém. Adicione-se a isso o tempo dedicado as tarefas domésticas, a própria higiene, aos desperdícios diários no trânsito ou filas e chega-se a um total assustador de horas restantes de vida ociosa que poderia ser empregada para a conquista real da liberdade humana, ou seja, livrar-se da necessidade de estar presa a um ciclo sem controle. E é exatamente nessas horas restantes onde se gasta, pelo menos, 30% em relações improdutivas nas redes sociais, outros 20% (senão mais) em programas inúteis da televisão e talvez mais uns 40% na dedicação a atividades que não agregam nada de fato, como preocupar-se com os outros. Isso em nada ajuda aos "outros" também.
Tempo e Cérebro são os dois patrimônios mais preciosos de que dispomos. Parte do nosso tempo nós vendemos por que não capacitamos nosso cérebro. Parte importante do nosso tempo é dedicado as "atualizações" em perfis e compartilhamentos sem reflexões. Nesse ponto retorno ao fator educação por que as crianças atuais são como as de todas as eras, ou seja, copiam os hábitos dos adultos. Se uma criança vê sua mãe (ou pai) passar mais tempo com os dedos sobre um ecrã de um celular do que folheando as páginas de um livro, que tipo de adulto estarão os pais modelando? Se um professor estimula seus alunos a realizarem pesquisas em telas de computador e a digitar as informações para gravar em um disco rígido de computador, qual será o aprendizado real que o aluno obterá em seu cérebro? Nosso cérebro retém informações quando as gravamos nele e isso se obtém com a leitura e a escrita (manual!). Por que alunos que sempre obtiveram notas excelentes durante todo o tempo em que estiveram se preparando nas escolas são reprovados no vestibular e na vida profissional? Por que apenas se preparam para as provas, mas não experimentam o conhecimento de fato.
As redes sociais também causam uma crise na identidade das pessoas. Quem somos de fato, já que precisamos ser tantas personagens expostas ao público? Por que, afinal, é tão importante que a minha rede saiba como acordei, como estou me sentindo ou o que estou sentindo? Que personagem sou hoje quando acordo e tenho necessidade de fazer um post? Não há nada de ruim em se ter um celular, pelo contrário! Não há nada de ruim em se possuir contatos e estar conectado a eles, mas por que realmente o indivíduo sente essa necessidade? É o vazio... A lista de objetivos de uma pessoa viciada em redes sociais, por exemplo, é subjetiva! É mais fácil diluir-se no oceano que ser uma gota única. Ser extraordinário ou diferente parece ser solitário e isso assusta muita gente. É um medo tolo, pois é impossível estar só ou realmente ser solitário nos dias atuais. Geralmente solidão sentem as pessoas que, mesmo rodeadas pelos outros, não se encaixam no contexto, só que isso é muito fácil de solucionar. Difícil é resolver a solidão das pessoas dependentes de uma rede social para se sentirem menos ansiosas. Sua felicidade é uma lâmpada que se apaga quando se sai da rede e depois se acende no retorno. Isso não é felicidade. É ilusão de alegria!
As evoluções tecnológicas não foram bem administradas por nós. Não estamos mais inteligentes e nossa vida não se tornou melhor graças a elas, apenas estamos incrivelmente mais ocupados em virtude da incapacidade de melhor nos servirmos delas. Dificilmente essa reflexão irá mudar a opinião de quem já está dependente de uma dessas redes. Mas, ainda assim, eu faço um desafio a quem teve a disposição de ler esse registro até o final: fiquem três dias sem usar nenhum desses instrumentos, utilizem o celular apenas para sua função precípua, desliguem a televisão assim que o seu programa preferido terminar e descubram o que fazer (de melhor) com o tempo que lhes restará. Com certeza, alguém mais criativo decidirá ter um momento de diálogo com alguém de seu círculo de afeição e isso resultará em algo mais prazeroso do que a degeneração da linguagem habitual nas redes. Não vale ficar olhando o celular enquanto se está dialogando, isso é um insulto para o interlocutor, mesmo que este também seja um viciado em redes.