Jerusalém é mundialmente conhecida como a Terra Santa, e por esse nome a gente já pode esperar um local povoado por crenças. Mas essa figura está mudando: agora, é uma terra povoada por cientistas também.
Tudo começou há 15 anos com planos de expansão da Torre do Museu de David. Mas a história tomou um rumo diferente quando os arqueólogos começaram a escavar as camadas sob o piso de um antigo prédio abandonado ao lado do museu na Cidade Velha, e encontraram o inesperado.
Tudo o que eles sabiam até então era que o local havia sido usado como prisão quando os turcos otomanos (e em seguida os britânicos) dominaram a região. Só que ali havia um tesouro escondido. Ao aprofundar as escavações, eles finalmente descobriram algo extraordinário: o local onde uma das mais famosas cenas do Novo Testamento pode ter ocorrido, o julgamento de Jesus.
Agora, depois de anos de escavação e um novo atraso causado por guerras e uma tradicional falta de fundos, essa preciosa descoberta dos arqueólogos está finalmente sendo mostrada ao público através de excursões organizadas pelo museu.
O local do julgamento de Jesus
De acordo com Amit re’em, o arqueólogo que liderou a equipe de escavação mais de uma década atrás, essa prisão é apenas uma grande parte do quebra-cabeça de Jerusalém antigo e mostra a história da cidade de uma forma muito original e mais clara.
Para re’em, o edifício tem rendido um tesouro de descobertas emocionantes e que impactam a história de todos os séculos: coisas como símbolos gravados em paredes antigas por prisioneiros da resistência judaica na época em que estavam lutando para criar o Estado de Israel em 1940, bacias de tingimento de tecido da era das Cruzadas e paredes da fundação e um sistema de esgoto subterrâneo que provavelmente impulsionou o palácio construído por Herodes, o Grande, o rei excêntrico da Judéia do império romano.
A rota da Via Dolorosa
O caminho por onde Jesus foi condenado, crucificado e depois enterrado foi mudando ao longo do tempo, e os especialistas têm debatido sobre o local do julgamento, onde Pôncio Pilatos condenou Jesus à morte.
Nenhuma inscrição informa que aconteceu ali de fato, mas tudo (tanto descobertas arqueológicas quanto contos do evangelho) levam à conclusão de que o lugar foi realmente aquele. Para Shimon Gibson, da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, nos Estados Unidos, ao olhar para tudo o que descobrimos até agora, “faz todo o sentido” que o lugar do julgamento de Jesus tenha finalmente sido descoberto.
Pôncio Pilatos era provavelmente um convidado no palácio, e de acordo com as descrições do Novo Testamento, o julgamento teve lugar perto de um portão e em um pavimento de pedra irregular, detalhes que se encaixam com os achados arqueológicos.
Só o começo
O debate sobre o local do julgamento continua entre os líderes espirituais, cristãos, historiadores e arqueólogos. Mas hoje, os pesquisadores estão certos de que o palácio de Herodes estava no lado ocidental da cidade, onde a Torre do Museu de David e da prisão da otomana ficavam.
99,9% de certeza
Para Shimon Gibson, há muito pouca dúvida de que o julgamento ocorreu em algum lugar dentro do composto.
O Reverendo David Pileggi, ministro da Igreja de Cristo, uma congregação anglicana cujo complexo inclui um centro de pensão e herança perto do museu, disse que a descoberta dentro da prisão confirmou o que todos esperavam: “Que o julgamento aconteceu perto da Torre de David”.
Então, agora que está aberta ao público, essa prisão pode se tornar um novo local sagrado para os peregrinos cristãos, ou mesmo alterar o caminho da Via Dolorosa?
Para Pileggi, isso não deve acontecer tão cedo. “O que faz um lugar santo é o fato de que as pessoas têm ido lá por centenas de anos, orado, chorado e até comemorado lá, então eu não acho que haverá mudanças na rota em qualquer momento em breve. Mas a prisão nos dá uma explicação mais clara da história de Jerusalém”, completa.
De qualquer forma, as autoridades do museu já começaram a trabalhar com guias turísticos versados na história cristã, que podem explicar o significado das paredes remanescentes e túneis cuidadosamente esculpidos que ficam por ali.