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Depressão na infância e adolescência (Depressão não é tristeza)


Depressão é uma doença crônica, recorrente, muitas vezes com alta concentração de casos na mesma família, que se manifesta não só em adultos, mas também em crianças e adolescentes.

Qualquer criança ou adolescente pode ficar triste, mas o que caracteriza os quadros depressivos nessas faixas etárias é o estado persistentemente irritado, tristonho ou atormentado que compromete as relações familiares, as amizades e a performance escolar.

Em pelo menos 20% dos pacientes com depressão instalada na infância ou adolescência, existe risco de surgirem distúrbios bipolares, nos quais fases de depressão se alternam com outras de mania, caracterizadas por euforia, agitação psicomotora, diminuição da necessidade de sono, idéias de grandeza e comportamentos de risco.

Antes da puberdade, o risco de apresentar depressão é o mesmo para meninos ou meninas. Mais tarde, ele se torna duas vezes maior no sexo feminino.
A prevalência da enfermidade é alta: depressão está presente em 1% das crianças e em 5% dos adolescentes.

Ter um dos pais com depressão aumenta de 2 a 4 vezes o risco da criança.

O quadro é mais comum entre portadores de doenças crônicas como diabetes, epilepsia ou depois de acontecimentos estressantes como a perda de um ente querido.

Negligência dos pais ou violência sofrida na primeira infância também aumenta o risco.

É muito difícil tratar depressão em adolescentes sem os pais estarem esclarecidos sobre a natureza da enfermidade, seus sintomas, causas, provável evolução e as opções medicamentosas.

Os estudos mostram que 60% desses pacientes respondem ao tratamento.

Esses medicamentos apresentam menos efeitos colaterais e risco de complicações por overdose menor do que outras classes de antidepressivos.

A recomendação é iniciar o esquema com 50% da dose e depois ajustá-la no decorrer de três semanas de acordo com a resposta e os efeitos colaterais.

Obtida a resposta clínica, o tratamento deve ser mantido por seis meses, no mínimo, para evitar recaídas.

A terapia comportamental mostrou eficácia em ensaios clínicos, e parece dar resultados melhores do que outras formas de psicoterapia.

Através dela os especialistas procuram ensinar aos pacientes como encontrar prazer em atividades rotineiras, melhorar relações interpessoais, identificar e modificar padrões cognitivos que conduzem à depressão.

Outro tipo de psicoterapia eficaz em ensaios clínicos é conhecida como terapia interpessoal. Nela, os pacientes aprendem a lidar com dificuldades pessoais como a perda de relacionamentos, as decepções e frustrações da vida cotidiana.

O tratamento psicoterápico deve ser mantido por seis meses, no mínimo.

Como o abuso de drogas psicoativas e suicídio são conseqüências possíveis de quadros depressivos, os familiares devem estar atentos e encaminhar os doentes a serviços especializados assim que surgirem os primeiros indícios de que os problemas da depressão possam estar presentes.

Depressão: doença que precisa de tratamento (Ricardo Moreno - médico psiquiatra e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo). 

Depressão não é tristeza.

É uma doença que precisa de tratamento. Cerca de 18% das pessoas vão apresentar depressão em algum período da vida.

Quando o quadro se instala, se não for tratado convenientemente, costuma levar vários meses para desaparecer. É também uma doença recorrente.

Quem já teve um episódio na vida, apresenta cerca de 50% de possibilidades de manifestar outro; quem teve dois, 70% e, no caso de três quadros bem caracterizados, esse número pode chegar a 90%.

A depressão é uma patologia que atinge os mediadores bioquímicos que agem na condução dos estímulos através dos neurônios que possuem prolongamentos que não se tocam.

Entre um e outro, há um espaço livre chamado sinapse absolutamente fundamental para a troca de substâncias químicas, íons e correntes elétricas. Essas substâncias trocadas na transmissão do impulso entre os neurônios, os neurotransmissores, vão modular a passagem do estímulo representado por sinais elétricos.

Na depressão, há um comprometimento dos neurotransmissores responsáveis pelo funcionamento normal do cérebro.

Diferença entre tristeza e depressão


Dráuzio – Vamos começar pela pergunta clássica: qual a diferença entre tristeza e depressão?

- R. Moreno - Tristeza é um fenômeno normal que faz parte da vida psicológica de todos nós.

- Depressão é um estado patológico. Existem diferenças bem demarcadas entre uma e outra.

A tristeza tem duração limitada, enquanto a depressão costuma afetar a pessoa por mais de 15 dias.

Podemos estar tristes porque alguma coisa negativa aconteceu em nossas vidas, mas isso não nos impede de reagir com alegria se algum estímulo agradável surgir.

Além disso, a depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por qualquer atividade.

É um transtorno que pode vir acompanhado ou não do sentimento de tristeza e prejudica o funcionamento psicológico, social e de trabalho.

Possibilidades de prevenção


Dráuzio – O que se pode fazer neste mundo moderno para não cair em depressão?

- R. Moreno – A primeira coisa é apelar para o bom-senso. Não há uma receita básica , mas todos podemos contar com o bom-senso para conseguir uma qualidade de vida satisfatória.

Depois, é preciso desenvolver a capacidade de enfrentar e resolver problemas, dificuldades e conflitos.

Tanto isso é possível que apenas 18% da população apresenta quadros depressivos ao longo da vida.

Problemas todos temos. É necessário, dentro das possibilidades, aprender a lidar com eles e a não deixar que nos abalem demais.