Todo mundo já se sentiu triste ou para baixo pelo menos
uma vez na vida – é uma parte normal de ser humano. Podemos experimentar
emoções negativas devido a muitas coisas, como um dia ruim no trabalho, o
término de um relacionamento, um filme triste, etc. Às vezes, dizemos até que
estamos nos sentindo um pouco “deprimidos”.
Mas o que isso significa e quando podemos dizer se é
mais do que apenas um sentimento passageiro?
Depressão é mais do que sentir tristeza ou estresse. É
uma doença altamente prevalente e pode ser significativamente incapacitante.
Também é comumente associada com outros transtornos mentais comuns, incluindo
transtornos de ansiedade ou de uso de substâncias.
De acordo com um relatório da Organização Mundial da
Saúde (OMS), mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo. No
decorrer de um ano, 5% da população mundial sofrem com a doença.
No Brasil, estima-se que pelo menos dez milhões de
pessoas ou 18% da população tenham depressão, mas esse número pode ser bem
maior, já que muitos nem sabem que possuem a doença (e consequentemente não a
tratam).
A OMS aponta que apenas 35% das pessoas com sintomas de
problemas de saúde mental procuram ajuda. Isso pode ser por causa de
dificuldades em identificar a depressão na comunidade devido a uma falta de
conhecimento ou acesso a cuidados médicos, ou pelo estigma que a doença
carrega.
Segundo os médicos, isso precisa mudar: depressão é
coisa séria e leva a inúmeros suicídios (cerca de um milhão) todos os anos.
Para enfatizar tal grave potencial, vale pensar em um exemplo prático que fez a
manchete dos jornais recentemente: a morte do cantor Chorão, que muitos
especulam ter sido causada por ele mesmo, devido a uma depressão que sua
família afirmou que ele estava passando.
Episódio depressivo: diagnóstico e fatores de risco
Um episódio depressivo é definido como um período de
duas semanas ou mais no qual o indivíduo experimenta sentimentos persistentes
de tristeza ou perda de prazer, juntamente com uma série de outros sintomas
físicos e psicológicos, incluindo fadiga, alterações no sono ou apetite,
sentimentos de culpa ou inutilidade, dificuldade de concentração ou pensamentos
de morte.
Para ser diagnosticado com transtorno depressivo maior,
o indivíduo deve ter pelo menos um episódio depressivo que atrapalhe o seu
trabalho, vida social ou vida domiciliar.
Geralmente, não há uma única razão pela que um
indivíduo torna-se deprimido. Existem vários fatores de risco, incluindo
influências fisiológicas, genéticas, psicológicas, sociais e demográficas.
Fatores de risco biológicos incluem ter um histórico
familiar de depressão, sofrer de uma doença ou lesão de longo prazo de natureza
física, experimentar dor crônica, usar drogas ilícitas ou tomar certos
medicamentos, ter problemas de sono crônicos ou ter um bebê. Ter experimentado
depressão no passado é um fator de risco para um episódio depressivo ainda
maior;
Fatores de risco psicológicos para a depressão incluem
ter baixa autoestima ou ter uma tendência a ser autocrítico;
Influências demográficas e sociais incluem ser do sexo
feminino (as mulheres são quase duas vezes mais propensas a sofrer de depressão
do que os homens), passar por eventos estressantes (como conflitos de
relacionamento ou cuidar de alguém com uma doença grave), ter experimentado uma
infância difícil ou abusiva ou estar desempregado.
As pessoas são muito diferentes na quantidade ou tipo
de fatores de risco aos quais estão expostas ou experimentam. E ter vários
fatores de risco por si só não é suficiente para desencadear a depressão.
Uma combinação de fatores de risco e a experiência de
eventos estressantes ou adversos é que pode levar ao aparecimento da doença.
Quanto maior o número de fatores de risco que uma pessoa experimenta, mais
vulnerável está a desenvolver a condição quando se depara com eventos de vida
estressantes.
Em contraste, aqueles expostos a menos fatores de risco
estão um pouco mais protegidos, e só podem desencadear depressão quando
expostos a níveis extremos de estresse.
Tratamento e prevenção
Hoje, há uma série de tratamentos eficazes para a
depressão. O mais eficaz e amplamente utilizado é a terapia
cognitivo-comportamental aliada a medicamentos antidepressivos.
Terapia cognitivo-comportamental é uma terapia baseada
no diálogo que tem como principal objetivo reduzir os padrões de pensamentos
negativos, enquanto os medicamentos antidepressivos agem sobre substâncias
químicas cerebrais que podem desempenhar um papel na doença.
Há também evidências de que a terapia
cognitivo-comportamental combinada com a educação sobre a depressão pode
impedir que um indivíduo desenvolva a condição. Para ampliar o alcance de tais
programas de prevenção, terapias online foram desenvolvidas e se mostraram
eficazes.
Pesquisadores australianos estão na vanguarda do
desenvolvimento de plataformas na internet para reduzir a prevalência de
depressão e outros transtornos mentais. Por exemplo, eles testaram um programa
online que necessitou de apenas 111 minutos de contato entre o paciente e o
médico durante um período de oito semanas para eliminar o diagnóstico de
depressão nos participantes, um tempo significativamente menor do que o
necessário para outras terapias similares.
Outro estudo do mesmo grupo, da Universidade de New
South Wales (Austrália), mostrou que a terapia cognitiva comportamental via
internet tem o poder de reduzir dramaticamente tanto a depressão quanto os
pensamentos suicidas em pelo menos 50% dos pacientes.
Por fim, há evidências de que alterações de estilo de
vida também podem ajudar a prevenir a depressão em algumas pessoas.
Engajar-se
em comportamentos saudáveis – tais como ter um sono adequado, evitar o uso de
substâncias, tomar vitaminas ou suplementos de óleo de peixe, praticar
atividade física e ter uma alimentação saudável – tem sido associado com
sintomas de depressão reduzidos. No entanto, os cientistas não sabem dizer se
simplesmente alterar o estilo de vida pode levar diretamente a prevenção da
doença.
A pesquisa atual sobre as bases biológicas e genéticas
da depressão está resultando em um contínuo refinamento de tratamentos físicos
e farmacológicos.
A análise e melhor compreensão das opções de tratamento
para determinar quais são mais eficazes para cada tipo de pessoa também é uma
grande promessa para permitir uma abordagem individualizada de tratamento e
prevenção da depressão no futuro.